domingo, 20 de abril de 2008

Se ao menos fosse menino morgado...

Lá ia, menino morgado por berço, educado a acreditar no destino que lhe havia sido marcado pela Providência, que, segundo alguns, intercedera directamente para que o menino morgado fosse quem é. Mais que tudo, lhe havia possibilitado uma vida folgada e ociosa, vida de salões e de bailes na capital, de encontros fortuitos e amores para sempre esquecidos.

Quão diferente tudo seria se fosse “menino morgado”. As pessoas seriam mais simpáticas, mais acessíveis, mais calorosas e humanas. Se fosse menino morgado todos olhariam de maneira diferente. Nunca teria de esperar até ter trinta ou quarenta anos para partilhar a sua opinião sem que outros achassem que nada sabia devido à sua tenra idade, de ser ouvido. Mais! Se o fosse todos lhe perguntariam o que pensava deste ou daquele assunto. As senhoras observá-lo-iam ao passar, falando discretamente, mas de forma audível como se de propósito fizessem, com a naturalidade que só é possível através de prática corrente e diária. Comentariam a excelência natural do menino morgado, fruto em parte da fabulosa educação que lhe foi proporcionada no estrangeiro. O senhor seu Pai tinha razão, a sua educação em Portugal teria sido um desperdício de tempo, dinheiro e de talento.

Como tudo era fácil e acessível, como se a vida se lhe disponibilizara a agradá-lo, como se tudo e todos se esforçassem na sua serventia. Como era diferente de todos os que o rodeavam…




Vasco Martins

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