sábado, 19 de abril de 2008

Hoje choveu aqui. Devia ter chovido no país inteiro.

Já lá vai o tempo em que as palavras fluíam como a água da chuva. Porque água da chuva não é uma água qualquer. A água da chuva flui de maneira diferente. Talvez por não ser tão coesa como a água da torneira ou a água do rio. Não, a água da chuva entranha-se. E escorre. A água da chuva escorre e nós nem damos conta. Quanta água terá passado entre o passeio e a estrada, junto a minha casa, com destino àquela abertura que há nas ruas que, eventualmente, vai dar aos esgotos?

E as outras águas?

Será que outras águas, que não a água da chuva, também optariam por rumar àquela passagem que vai dar ao sítio onde a água da chuva deixa de ser água da chuva? E escorreriam da mesma maneira? Não, não como a água da chuva. A água da chuva é diferente. A água da chuva não tem pressa nem vergonha. A água da chuva caminha erguida e firme, sem dúvidas de que é água, e mesmo não sabendo que as outras pessoas possam gostar ou não de água, não deixa de caminhar da mesma maneira, que sente de forma latente e involuntária que é a sua, a sua maneira natural de caminhar.

A água da chuva é rara.

A água da chuva dura pouco, porque se junta a outras tantas águas e fica corrompida, estragada, sem esplendor, sem piada. A água só é boa se for água da chuva. Se não for água da chuva não quero. Sim, podem dizer-me que sou inocente, ignorante, imaturo, que não sei nada da vida ou do mundo e que, quanto antes me vou arrepender de confiar tanto na água da chuva.

Porque a água da chuva é para os sonhadores...

Eu prefiro acreditar que a água da chuva é para aqueles que acreditam. Porque a minha água da chuva até se pode juntar às outras águas. Porque as outras águas quando têm muita água da chuva absorvem as pessoas e a água da chuva fica sem espaço para pingar. E quando a água da chuva se une às outras águas, caminham todas para aquele buraco que existe no passeio, ao pé de minha casa e deixa de ser água da chuva. A única diferença, é que eu sei fazer chover.



Vasco Martins

1 comentário:

didium disse...

O que interessa é que tenhas sempre convicções e acredites em ti e na tua vontade de vencer!